Tuesday, March 30, 2010

Heráclito X Parmênides

Mudar ou permanecer?

Antes fosse, eu quereria ser uma eterna metamorfose ambulante. Tanto que na adolescência era chamado de “borboleta”. Diziam: “Carlinhos gosta de pousar em várias flores”. Uma metáfora para minha pouca consistência ou paciência em tomar posições, partidos, ideias e ideais.

Em pouco tempo fui colecionador de selos, atleta, católico (de fundamentalista a simpatizante da teologia da libertação), líder estudantil, carnívoro, macrobiótico, vegetariano, hare krishna, novamente carnívoro, comunista, petista, anarquista, metido a artista, roqueiro, MPBista, beatnick, "incendiário" e depois "bombeiro", social democrata, nacionalista, liberal, conservador, regionalista, universalista, personalista, impersonalista, defensor do verde e das baleias (não havia ainda o termo ecologista e muito menos ambientalista), fanático por futebol, editor de jornal alternativo, universitário, underground, assessor de imprensa, promoter, professor, secretário de cultura etc etc etc...

Afinal, o que sou mesmo, agora?

Gosto muito da definição que consta neste diário: passageiro na janelinha... mas, preferiria ser “apenas um rapaz latino-americano”.

Wednesday, March 24, 2010

Dihelson é o culpado

Um pouco antes das nove, mesmo sabendo da pouca probabilidade de ser atendido, arrisquei e telefonei para Dihelson. Pasmem! Ele estava acordado. Dez minutos depois estava na sua casa na rua Paulo Elpídio, aprazível bairro da Vila Alta. Fui para um contato breve, com o intuito único de entregar-lhe a cópia do último programa Instrumental & Qual, que também será veiculado pela Rádio Chapada do Araripe. Só que é impossível não demorar na sua companhia.

O homem é um bólido. Veloz no raciocínio e generoso no compartilhamento das preciosas informações que detém com abundância. E tome conversa sobre assuntos diversos: web, música, fotografia... e o tempo passando. O meu próximo compromisso seria apanhar PR na escola às 11 horas.

Perto das dez e meia, dei o primeiro sinal de que iria embora. E Dihelson monstrando-me músicas e vídeos sem parar e numa velocidade estonteante. Ele tem um bocado de terabyte ocupado com cerca de quarenta mil músicas e mais um belo tanto de vídeos, filmes e fotografias. Seu quarto é, por si só, um museu de imagem e som.

Quando consegui "escapar' já passava das onze. Então quem virou um bólido fui eu, rumando apressado para apanhar PR na escola. Cheguei com meia hora de atraso e PR era o último da sala, em regime de espera. Quando me avistou ele fez uma cara de poucos amigos e me “fuzilou” com a inevitável indagação: por que demorou, pai?

Não tinha outra desculpa e disse: a culpa é de Dihelson.

Monday, March 22, 2010

Sara & Régia

Sara Ravena completou ontem 17 anos. Talita Régia permanece no que parece duradouros 15 anos. Ravena é yin. Talita é yang. Ravena, sempre que pode, dorme até o meio-dia. Talita, invariavelmente, é boa de garfo. Por isso, em pleno sábado, 8 horas da manhã, testemunhei um episódio inusitado, até surreal: Ravena, acordadíssima, convidando Talita para o desjejum, e Talita, com inapetência, declinando do convite.

Pensei que o mundo fosse acabar com dois anos de antecedência.

Tuesday, March 16, 2010

Seu Jefferson do Sítio Fundão

Recebi a visita de Ed Alencar, neto de Seu Jefferson do Sítio Fundão. Ele veio colher um depoimento sobre a amizade que tive com o seu avô, falecido em 1986. Ed está realizando um documentário sobre esta personalidade ímpar e elevada.

Para aqueles que estão “voando”, Seu Jefferson foi um dos pioneiros da causa ambiental no Cariri cearense. Herdeiro de uma "réstia" de floresta, situada nos arredores da cidade, ele teve o mérito e a grandeza de preservá-la enquanto viveu. O Sítio Fundão, área preservada de 123 hectares, é um verdadeiro santuário ecológico.

Quando o conheci, ele tinha 83 anos e eu dezessete. Ia visitá-lo cerca de duas a três vezes por semana. O Sítio Fundão era um atrativo à parte, dotado de patrimônio histórico edificado, flora e fauna nativas, incluindo árvores monumentais e fruteiras, e um delicioso banho no rio Batateira. O rio esculpe, no local, há milhões de anos, um pequeno cânion sobre uma formação rochosa.

Mas, o que mais me atraia era a figura bíblica e sábia do Velho Jefferson.

Com ele, partilhei momentos aprazíveis e de pura sabedoria. Dele, recebi vários ensinamentos de cidadania e lições de vida.

Depor sobre Seu Jefferson é sempre uma honra para mim.

Foto: Luiz Carlos Salatiel